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domingo, 31 de maio de 2009

Roda


Brinco
no largo
da minha infância,
girando,
de mãos dadas,
em roda de esperança.

Cresce
por cada um
que a descobre,
aqui, no largo
da minha
terra,
e connosco
quer brincar.

Um dia
a nossa roda
será tão grande,
tão grande,
que abraçaremos
todos, à vontade,
a nossa Terra
e o largo
seremos nós.

Ciclos


A grande roda dentada
move-se
entre muitas outras
e essas
movem outras mais.

E todo o mecanismo
parece perfeito
e não ter fim.

Os ciclos
contam-se
sem erros,
nem interesses...

Criar
é reinventar a vida,
possuir a ilusória chave
que nos abre à imortalidade.
E pelo olhar do romantismo
recriamo-nos à dimensão
dos nossos profundos desejos,
para entretermos a solidão
e o medo da morte.

Esgotada
a ansiedade,
o tempo corre
sempre mais devagar
e o Sol põe-se
sensivelmente,
todos os dias,
à mesma hora.

Specie

Nem sempre
me consigo elevar,
ficando preso
em sofrimento
às trevas
das ninharias
do egoísmo.

A (des)valorização
dada à aparência
do problema,
depende
do confronto
que estabeleço
com a essência
da minha (in)segurança.

O instinto maior
à sobrevivência,
a educar,
deverá ser
o da preservação
da specie
da alma humana.

Máscaras


Ninguém se pode sentir gente,
com tanta gente retalhada.

É homem inteiro,
aquele que tem consciência
dos seus próprios limites.

O pecado está na insensatez
da superficialidade
como fuga...

Com o tempo crescemos,
limpando-nos de máscaras;
as que nos cansam até à alma
e que nos escondem de nós...

(Re)criado...

A superioridade
da raça
está na forma
como se ama,
não, como se destrói
ou se subjuga.

Quero ser lembrado
por nada ter possuído,
apenas (re)criado.

Marcar território?!
Isso é coisa
de cão!

Procuras-te criança

Prendes-te à terra,
com as raízes
que inventas,
procuras-te criança
e na segurança
com dependência.
Veste-te de medos
ao mundo que passa,
ergues teus muros, altos
e fechas-te de muitas portas.
Rejeitas-te na aventura,
negas crescer,
descobrir o mundo,
olhar outras estrelas...

Debaixo
da grande saia,
restas apenas tu,
ainda escondida
a chorar,
sem saberes de ti,
nem de todos os outros
que já partiram.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Simone, portuguesa






Canta com liberdade
o sonho dos poetas
que nos deram alma
e tem na voz
a força e o timbre
de um povo;
que soletra baixinho
saudade.
Constrói-se
de ninhos de manhãs coragem
com cantigas de ternura
aos filhos de um fado país.
Coração de filigrana
de um só destino
criado por gosto,
pulsa de amor-perfeito
no colo deste nosso Inverno
de esperanças de Primavera.
Tem no encanto
o sorriso dos dias
e as vestes de Lisboa.
Nas mãos fragatas
beijando o Tejo...
Apregoa a felicidade
das conquistas,
com ânimo
e asas de gaivota,
ao céu de um qualquer nosso desejo.

Seu nome
Simone,
mensageira,
trimegista,
cidadã da palavra
portuguesa,
nossa!




Poema publicado no Sarau em Boca de Cena, em revista (Brasil).

Não tenho sexo


Não tenho sexo;
tenho corpo
e querer!

Já cumpri
de reprodutor.

A minha idade
é a do amor
até que haja
tempo,
fantasia
e gente livre
como eu.

Há muito,
que não apago
a luz.

Ansiando

Persisto
na ombreira,
de porta entre aberta,
olhando
timidamente
o que acontece
fora de mim,
ansiando
que caiba o mundo
no interior
de minha alma.

Trilhos

Temos tudo
ou quase tudo.
Há quem tenha
quase nada
ou nada.
Estes trilhos
roseirais
são brincadeiras
aos desertos
da existência.

Na inocência
de qualquer manhã,
que bom seria,
se fosse cinzenta,
apenas, pela nuvem
que escondeu o Sol.

Desgarrada


À desgarrada
trovo os versos
que invento,
no meu silêncio,
espero a resposta
do canto teu.

Não é fácil
entender o poeta,
sem escutar
a alma da poesia.

Caminhos

Sem pressa
os corpos bailam no céu,
pelos caminhos
que os apresam
e a lucidez
persiste de estrela
ao olhar ingénuo
dos que olham para cima,
esperando a razão
que sustente a vida.

No drama humano
ficcionam-se os deuses
como mortais,
como se alguma vez
pudesse o Homem
ser deus.

Ventos

Somos gente,
ainda respirando,
presa ao cais
da esperança,
provocando
os ventos
e o grande oceano.

A natureza
é sábia
e o Homem
místico.

Herói dos dias

Se não tivesse medo de amar
não vos cobraria
a minha felicidade.
O risco da perda
leva-me ao abismo
do ganho.

A humilhação
ainda tem género;
vergando-se à terra
e a face do poder
tem expressão viril.

A minha coragem
é feita entre
fraqueza
e receios.
E assim,
vou-me sentido
herói dos dias.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O bem e o mal


Não digo mal
de quem diz mal;
o mal do mal
não leva ao bem.

Dizendo mal,
digo o que olho
por mim,
convicto do todo.

Somente vejo
de baixo
quem me olha
por bem
ou é merecedor
de ser admirado
como grande.

O uso das forças
só a mim me compete…
Mas se sei o caminho
por que hei-de sair
dos limites do traçado,
de mim me perder,
e não me sentir bem?

Sofro
sempre que me corrijo
e inquieta-me
o requinte
dos hipócritas.

Não tenho o mal
da maledicência…
O percurso é só um;
o do bem!

Impossível
servir a dois senhores;
Deus
e Mamon!…

sábado, 16 de maio de 2009

O tempo e eu


O tempo
encurta-me a vida
enquanto decorre
e tanto acontece
ao ritmo das emoções.

Ele constante,
nunca me esquece,
eu é que me iludo.

O tempo abraça-me
e eu sempre
a querer fugir-lhe
entre memórias,
e ansiedades.


sexta-feira, 15 de maio de 2009

Romã e árvores




Esta união, de facto,
que se desfaz,
com estrelas sem céu,
de mãos não dadas,
laços e tratados mal apertados,
parentesco sem raízes,
intuitos sem fé,
ideologias desconcertadas...
Espera a derrocada,
que seja pretexto
à liberdade suprema,
como península,
que se quebre
em ilha
e navegue aos mares do possível
e de futuro.

Consagra-me o destino:
um irmão de sangue,
que nossas casas sejam geminadas
até à alma,
que outros virão
unidos pela palavra
e ao coração de todas as histórias...

Persiste uma flor,
ao efeito de quaisquer ventos,
enlaçada ao bordão da esperança;
quer ser romã
e árvores.

E eu,
por vontade de todos,
também serei.



Imagem retirada de;
http://luminaria.blogs.sapo.pt/452690.html


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sétimo fado


Três;
triângulo,
tempos,
virtudes,
democracia.
O enxofre, o mercúrio e o sal.
Os três céus.
Três sortes,
três (sem) reis,
e três de Deus, etc...

O quatro da cruz.
Quadrado.
Quatro; mares e ventos,
e os pontos cardeais.
Quatro sóis,
e estações.
Fases da Lua,
dinastias,
elementos,
e as letras do nome de Deus...

Sete;
rios e colinas.
Sete pecados,
capitais.
Sete selos
e trombetas.
As notas musicais.
Sete chakras,
sete vidas d`eus...

E o sétimo fado perecerá no horizonte.

Outras vozes,
outros números;
novo destino,
fado, outro,
império serão.


sábado, 9 de maio de 2009

O que sou...


Cada vez menos me confunde,
como me pareço...
Não é o que sou,
que importa,
e sinto-me em casa,
na pele
que me protege
a alma,
mas os sentimentos
que cultivo.

O que me (re)veste o pudor
é o olhar incriminatório
dos desprovidos de liberdade.

Como é grande o mundo
que eu sonho inventar
e ainda agora (re)nasci...

Tenho muito tempo,
até me multiplicar
para me saber
e chegar a hora
de sair do quarto.




Ilustração/Jean-Rustin

Sítio


Difícil crescer
num sítio pequeno,
de muros bem altos
e opacos,
cuidadosamente
preservado,
convenientemente
sombrio...

Difícil saber
se o instinto
que pede liberdade
não sofre
de pretensiosismo rebelde,
de coragem imprudente,
de inferioridade compensada,
de habilitada insubmissão,
e faça perigar
as estruturas
da maioria acomodada
ao que sempre
fora suficiente
e suspeitosamente amargo...

O que me está gravado na alma,
o que se me codifica na carne
e o que foi me dito por Deus,
em segredo ao ouvido,
permite-me provocar,
sem angustias,
nem receios,
quem se julga dono da natureza,
e possuidor das chaves dos céus,
e revolucionar
sem arrogância
os regímenes de pobreza...

Quero crescer;
estar à minha altura;
poder tão facilmente
seguir, de bruços,
o carreiro das formigas,
como pôr-me em bicos de pés
e mudar o sítio das estrelas.

Este ar rarefeito
envenena os sentidos;
são precisas
correntes de ar!...


Ilustração/Willem De Kooning

És poema...


És poema
por escrever.
Antes vivido
nos versos dos dias,
florescido
no corpo das palavras
que correm
sempre que nos invento,
inspirado,
e me chamas…
E somos fogo
e poesia!...

Quero-te
eternamente
inacabado,
mas intensamente
rimando
ao prazer
de cada momento.

Antes, seres-me,
que te (d)escrever.





Ilustração/Cecily Brown

Se me sofistico...


Se me sofistico
e me afasto
das raízes,
perder-me-ei
por ambição
ao que não tem fim
e serei escravo
do que nunca quis,
mas erradamente desejei...

Se me sofistico
esquecer-me-ei,
entre muitas coisas,
de que ainda hoje se morre
por não se ter o essencial,
e cairei no fosso
da (in)satisfação
pelo inexequível...

Se me sofistico,
morrerei por me (des)iludir
ou acabarei, sozinho,
como um deus,
supostamente
(i)mortal.
E louco!...

A colheita
dignifica-me,
desde a sementeira
e tenho tanta gente
a querer-me bem,
ao natural.




ilustração/Willem De Kooning

Acordo

Acordo
e ponho os pés no infinito.
Pouco convicto
de que se me faça dia
sem Sol suficiente
às surpresas
e aos confrontos,
regresso aos limites
da minha segurança
e descanso,
sobre o meu aconchego.
Cubro-me,
com a esperança
que me prepare
a vencer-me
e a habitar a liberdade
lá fora;
quando me for conveniente
o tempo
e o estado de espírito.